Nuno Campos em entrevista

Nuno Campos está prestes a completar dezasseis anos de ligação à FPF. É um cidadão ligado ao desporto, cumpriu 332 jogos sem qualquer castigo. É o médico com mais campeonatos do Mundo ao serviço da Selecção Nacional. Paralelamente  é treinador dos Petizes do Dino Clube.
Em entrevista ao nosso site fala sobre a sobre a Selecção nacional, nomeadamente as eras de Scolari e Carlos Queiroz. O conceituado médico analisa, ainda, o trabalho de Júlio Vieira na AF.Leiria e o crescimento do futsal.

Cinquenta anos ao serviço do futebol. Que ilações retira?
Estou a cumprir meio século no futebol. Comecei na Académica como jogador, eu jogava a extremo-esquerdo. Ainda me lembro da final diante do Sporting, em que perdemos, por 5-1. Foi a minha primeira final.

Sofria muitas faltas?
Sim. Posso dizer que sim. Na posição em que jogava estava muito exposto a isso.

Como se processou a entrada como médico nas Seleccões nacionais?
Eu na altura era director da AF.Leiria e acompanhava como médico a Selecção distrital, nos Torneios Inter-Associações. Fui Convidado pelo Professor Rui Caçador e passei logo para selecção nacional sub-20. Depois passei para Médico da Selecção A.

É uma grande responsabilidade?
Sim, mas é a mesma nos escalões mais jovens, como na Selecção principal.

Já lhe aconteceu ter cometido alguma má avaliação médica?
Que eu me lembro não. A maioria das lesões já vêem referenciadas.

Algum treinador já lhe exigiu a recuperação de um atleta para um jogo importante?

Todos os treinadores nos pressionam para a recuperação ser o mais rápido possível. Em provas longas é mais fácil, noutras situações não é mais difícil.

O caso Nani teve um grande impacto antes do Mundial. Que tem a dizer?
O que tenho a dizer sobre o assunto é que a dúvida não era médica. O Nani tinha uma fractura da Clavícula, que o impediu de participar na competição, apenas isso.

Não se sentiu incomodado com tanto mediatismo do caso?
Sim, mas como lhe disse a situação foi comunicada ao seleccionador. Há que respeitar hierarquias e as directrizes que nos são comunicadas.

Tem valido a pena estes anos ao serviço do futebol?

Sim. Há uma coisa engraçada que é eu ter as mesmas reacções que tinha há cinquenta anos. Eu treinos miúdos de 5 e 6 anos e continuo com a mesma atitude.

Preocupa-o o actual estado da Federação?
Sim. Claro que sim. Penso que as pessoas se devem entender a bem do futebol português

Como analisa o trabalho de Júlio Vieira à frente da AF.Leiria?
Eu estou um bocado desatento. Só agora como estou ligado ao Dino Clube é que voltei a estar mais perto. Na Altura havia muitas equipas seniores e poucas de formação. Quando saímos, já existiam muitas equipas de formação.

Como olha para o crescimento do futsal?
É mais fácil ter uma equipa de futsal do que futebol de 11. A comodidade é outra e os gastos também são menores. É uma modalidade que pode crescer ainda mais.

Concorda com as naturalizações?
Depende da situação. Se estiver cá há vários anos e casou com uma Portuguesa, concordo com a naturalização. Se for uma naturalização forçada, já não concordo.

Qual foi o seleccionador que mais gostou de trabalhar?

Luís Felipe Scolari. Ele tinha a ideia do que era um grupo. Posso contar um pequeno episódio em que Scolari disse para o senhor Gilberto Madaíl renovar o contracto com o técnico de equipamentos, porque ele estava em final de contrato.

Era um homem humano e com muito carisma?
Sim. Era um homem que dava um espírito de grupo formidável. O  que nós dizíamos ele acatava prontamente.

A boa campanha de 2004 resultou da empatia entre Scolari e o povo português?
Sim. Ele sabia cativar o povo português. Uma das recordações que nunca vou esquecer é as viagens de Alcochete para os estádios.

Foi uma desilusão a derrota diante da Grécia?
Um pouco, porque olhando para o que tínhamos feito até ali, tinha sido fantástico, por isso a desilusão não foi tão grande.

Como foi a sua relação com Carlos Queiroz?
Foi uma relação profissional, sem muita empatia, talvez devido ao feitio do Seleccionador

Que análise faz da situação que vive o ex-seleccionador?
Acho que ele se excedeu nos termos proferidos, porque o controlo foi no horário habitual. Enfim foi uma situação má a todos níveis.

Convidaria  Carlos Queiroz para orientar o clube do seu coração?

Provavelmente não.

Quais os clubes do seu coração?
Académica, Benfica, Sp.Pombal e Dino Clube.

Considera que a entrada de Paulo Bento trouxe um novo élan à Seleccão?
Sim. As coisas são um pouco diferentes, basta ver o que os jogadores têm dito. Há um bom ambiente no seio do grupo.

Como analisa a prestação do Sp.Pombal?
Eu só vi dois jogos esta temporada. Considero que pode alcançar a manutenção no campeonato.

Considera que deve manter a aposta nos jogadores formados no clube?
Eu acho que sim, acho que deve continuar.

Na formação os êxitos tem aparecido?
Sim É algo que me deixa satisfeito ver que o Sp.Pombal tem escalões a disputar os campeonatos nacionais. É extremamente positivo para o clube, porque no futuro esta política vai dar frutos.

Há demasiados clubes no concelho de Pombal?

Sim. Existem muitos e faz com que as pessoas apoiem o clube da sua terra.

Pensa um dia regressar ao Sp.Pombal?
Eu neste momento estou bem no clube da minha freguesia, que é o Dino Clube.

Como é voltar a ser treinador?
É emocionante. Eu treinei todos os escalões em Pombal, até o Feminino até o femino. Agora volto a ter  essas sensações que me dão um imenso orgulho. Ainda fico nervoso
Antes dos jogos.

Protesta muito com os árbitros?
Não. Eu berro muito com os meus jogadores, e acho que tenho um comportamento horrível para quem vê o jogo de fora das quatro linhas.

Ainda hoje diz aos seus jogadores uma frase sua que ficou célebre ” Esse remate não mata um passarinho”?
Essa foi uma frase que ficou célebre. Foi uma frase que disse ao Galego, que é agora professor de Educação física. Ele tinha um bom remate, mas naquele livre o remate foi muito fraco, por isso tive essa célebre expressão.

Cid Ramos

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