O presidente da SAD da União de Leiria, Alexander Tolstikov, negou ter “alguma coisa a ver com qualquer máfia” e prometeu continuar a investir para a equipa de futebol “representar a cidade e o país em provas europeias”.
Após dois meses detido preventivamente com o assessor Sergiu Renita no âmbito da operação “Matrioskas”, o empresário russo falou pela primeira vez em público sobre o caso em que é acusado de branqueamento de capitais, fraude fiscal e falsificação de documentos e suspeito de associação criminosa.
“O céu caiu em cima da União de Leiria”, disse Tolstikov, a abrir a conferência de imprensa no Estádio Municipal de Leiria, mostrando-se surpreendido com as acusações e com o teor das notícias publicadas.
“Não sei como foi possível. Não sonhei isto nem nos meus piores pesadelos”, frisou Alexander Tolstikov.
O presidente da SAD de Leiria diz que “todo o trabalho feito [na equipa] foi destruído num período de três dias” por acusações que o Ministério Público e a Europol investigam e que o ligam à máfia russa.
“Não tenho nada a ver com qualquer máfia nem sei o que é isso. Apresentámos na justiça e no tribunal documentos que provam isso, por isso estamos em liberdade”, acrescentando que a alegada ligação à máfia russa apenas é justificável com a sua nacionalidade: “Só porque sou russo dizem que faço parte da máfia russa e não da italiana. Só pode ser isso”.
O empresário não entende a natureza e a origem das informações que levaram às acusações.
“Parece-me que pode ter sido escrita alguma carta por um elemento da ex-direção do clube, que denunciou alguma coisa. Mas é difícil que isso seja possível. Não quero acreditar. Também pensei que pode ter sido o nosso trabalho brilhante, com muitas transferências de jogadores, que fez a polícia prestar mais atenção”, explicou.
Sergiu Renita, promovido a diretor desportivo pelo presidente em plena prisão, também admitiu que a denúncia “pode ter a ver com a luta pela subida” à II Liga, admitindo não ter provas: “São só suposições”.
“Quem quer fazer um trabalho sujo, não precisa de vir para a rua dizer que queremos subir de divisão como nós fizemos”, frisou o moldavo.
O presidente da SAD espera resolver a situação o mais depressa possível.
“Da minha parte, posso dizer que apresentámos todos os documentos que esclarecem o assunto. Se pedirem mais, apresentamos o que for preciso”, frisou.
Mesmo presos, os dois responsáveis da SAD leiriense continuaram a trabalhar, recorrendo ao único telefonema diário a que ambos tinham direito.
“As nossas férias foram passadas na prisão. Até houve benefícios, porque pude ler, colocar o sono em dia e comer a horas certas”, desabafou o russo, que mesmo detido inscreveu a equipa sénior da União de Leiria no Campeonato de Portugal e negociou a venda do médio Bruno Jordão para o Sporting de Braga.
Ambos preparavam-se até para continuar a trabalhar na SAD se continuassem detidos.
“Tínhamos uma estratégia já feita para orientar um projeto desportivo a partir da prisão”, garantiu Sergiu Renita, revelando que dos 150 reclusos que com eles conviveram “pelo menos cem ficaram simpatizantes da União de Leiria.
“Se conseguimos passar o espírito da União de Leiria na prisão, vamos conseguir ainda melhor em liberdade”, sublinhou.
Para Alexander Tolstikov, o projeto em Leiria “é essencial”, reiterando que a ambição de criar um clube profissional e “realizar um sonho”, apesar das medidas de coação a que continua sujeito.
O empresário russo já investiu um milhão e meio de euros na União de Leiria, assumiu que o investimento vai baixar em 2016/17, mas reiterou que “num futuro muito próximo” quer ter a equipa a “representar a cidade e país nas competições europeias”.
“Vamos jogar a próxima época jogo a jogo. No ano passado falámos logo que queríamos ir para a II Liga. Este ano o objetivo é ganhar um jogo de cada vez”, rematou.
LUSA