
Emaranhado num prolongamento de felicidade, pontuado de forma altíssima por um golo em Alvalade, Pesquina acordou mais preenchido do que nunca, saboreando o travo especial da Taça.
Há derrotas pesadas, que também podem ser esperançosas e inesquecíveis. Para o modesto Alba não foi desgraça alguma a goleada sofrida com o Sporting por 1-8. A tarde foi prazerosa para quem se candidatou a pregar o seu nome, uma alcunha herdada do avô, nos jornais, na história do Alba e de Albergaria-a-Velha.
«Acabou por ser um jogo engraçado. O treinador do Sporting é que podia ter sido um bocadinho mais amigo e não fazer entrar a artilharia toda. Estavam todos cheios de vontade e parecia que queriam bater um recorde», evidencia, entre gracejos, o avançado. Do futebol já não vive há muito. É eletricista e canalizador por conta própria, usando a mesma carrinha amarela que o conduziu a esta reportagem.
«O mundo da bola não é bem o que quero da vida. Sou uma pessoa humilde, gosto do que faço e só gosto de ver alegria à minha volta. O futebol já me mostrou que somos tratados como objetos e colocados facilmente na prateleira», confessa o desencanto. Naquele que foi o ponto alto da carreira, apalpa-se o desconsolo maior de Pesquina.
«Assinei com a Naval por três anos e a grande mágoa é não ter tido uma única oportunidade. Os treinadores portugueses preferem apostar em jogadores desconhecidos de fora», recorda o avançado, que se formou no Estarreja, vendo da bancada, enquanto júnior, o 4-1 aplicado pelo Sporting ao seu emblema na Taça de Portugal em 2002/2003.
«Cruzei-me com o Sporting aí e também na Naval. Cheguei a aquecer quando o Rochemback marcou. Perdemos por 0-2 e também foi para a Taça. À terceira joguei…», rebobina Pesquina, que festejou o golo em Alvalade como se estivesse a viver euforicamente uma final da Liga dos Campeões.
«Os festejos foram de raiva de querer dar qualquer coisa mais à malta que nos foi apoiar. Teve o condão de atenuar o resultado», regista, ciente de um contributo que ficará perpetuado na memória do público afeto ao Alba.
«Foi um momento especial só por ter realizado um sonho de criança, ao marcar num estádio destes», realça Pesquina, exibindo a camisola do leão Slimani: «Tentei trocar com o Montero mas ele já a tinha reservada para outro. Mas, pelos vistos, não a deu a ninguém.»
Diálogo mais curioso teve com o árbitro do encontro: «Fez questão de me felicitar e eu disse-lhe que devia era ter sancionado as faltas e as cotoveladas que sofri…»
Pedro Cadima (www.abola.pt)